MK ULTRA: Experimentos mais obscuros da história
O projeto MK-Ultra foi uma operação secreta do governo dos Estados Unidos iniciada pela CIA na década de 1950 que visava desenvolver técnicas para controle mental e alteração de comportamento humano através do uso de drogas, hipnose e outros métodos.
Na verdade, os experimentos MK-Ultra envolveram testes em seres humanos de diferentes faixas etárias e condições sociais. Os participantes eram frequentemente submetidos a tortura, isolamento, privação sensorial e abuso psicológico. O objetivo desse projeto era descobrir como controlar e manipular a mente humana para obter resultados desejados.
Informações sigilosas
Embora muitas provas dos experimentos tenham sido destruídas pelas agências governamentais envolvidas, alguns dos documentos foram liberados mais tarde. Desde então, surgiram várias informações sobre o projeto MK-Ultra. Assim sendo, esses experimentos chegaram a afetar a vida de milhares de pessoas nos Estados Unidos e em diversos países ao redor do mundo.
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Algumas das técnicas utilizadas pelos cientistas do projeto MK-Ultra incluíam o uso de LSD para fins de interrogatório e tratamento médico, além de técnicas de controle de comportamento com choques elétricos ou tortura mental. Os experimentos do projeto ficaram conhecidos como uma das iniciativas mais perturbadoras da história dos Estados Unidos e foram conduzidos durante muitos anos.
Embora o projeto MK-Ultra tenha sido oficialmente concluído em 1973, muitas questões ainda permanecem sobre a sua extensão e consequências. Hoje, o impacto desses experimentos em seres humanos é estudado formal e informalmente por estudiosos, jornalistas e pesquisadores preocupados com o acompanhamento das aplicações dessa pesquisa.
Os experimentos MK-Ultra também são frequentemente considerados um dos eventos mais obscuros da história recente da ciência e da sociedade, e suas lembranças ainda permanecem como um desafio para a verdade e transparência das pesquisas na nossa época.
Mk Ultra – Quando o segredo foi descoberto
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Há 46 anos, a Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) foi obrigada a publicar documentos que confirmavam o que muitos suspeitavam: ela havia financiado experimentos de controle mental, usando descargas elétricas, drogas alucinógenas e outras técnicas terríveis, sem o conhecimento dos cobaias.
Pela ordem dos abusos cometidos, os afetados só começaram a entender o que havia acontecido décadas depois, e o obscuro legado do programa ultrassecreto conhecido como MK-Ultra segue vigente.
Tudo começou no princípio da década de 1950, no momento em que a Guerra Fria estava no seu ápice.
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Entretanto, alguns americanos prisioneiros de guerra liberados na Coreia voltaram para casa defendendo a causa comunista. Ou seja, um ponto de alerta foi levantado junto ao fato e a comunidade de inteligência dos EUA resolveu agir.
Técnicas de controle mental
Preocupados com a possibilidade de os soviéticos e chineses terem desenvolvido técnicas de controle mental, e de que seus agentes ou prisioneiros de guerra pudessem revelar informações, a recém-formada CIA investiu US$ 25 milhões para experimentos psiquiátricos em seres humanos.
“A ideia era tratar de descobrir como interrogar as pessoas e debilitá-las, e também como proteger seu pessoal dessas técnicas”, disse em entrevista, o psiquiatra Harvey M. Weinstein, autor de Father, Son and CIA.
A agência utilizou organizações de fachada para chegar até as mais de 80 instituições e pesquisadores nos EUA, Reino Unido e Canadá.
“Foi o programa mais secreto já conduzido pela CIA nos EUA”, disse à BBC o autor e historiador Tom Oneill.
“Pacientes em hospitais psiquiátricos, presos em instituições federais e inclusive pessoas do público receberam drogas e foram parte de experimentos sem seu conhecimento ou consentimento”.
MK Ultra e o uso de ácido
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A Operação Midnight Climax estava entre os primeiros projetos do MK-Ultra.
“Estabeleceram o que chamavam de casas de segurança, onde prostitutas levavam homens a quem, sem adverti-los, davam LSD para que os cientistas da CIA pudessem estudá-los, geralmente atrás de um espelho bidirecional”.
Outra prática frequente era organizar e observar festas induzidas por LSD com música ao vivo.
Essas festas eram conhecidas como “provas de ácido”, e a cultura que surgiu a partir delas teve um papel chave no desenvolvimento dos movimentos hippies e psicodélicos anos depois.
Mas os experimentos mais nocivos ocorreram no Allan Memorial Institute em Montreal, um hospital psiquiátrico no Canadá, onde as mentes de um número ainda desconhecido de pacientes foram sistematicamente destruídas.
O hospital, conhecido como “o Allan”, estava sob a responsabilidade do escocês-americano Donald Ewen Cameron, que era considerado um dos psiquiatras mais reconhecidos do mundo.
É por isso que Lou, o pai do psiquiatra Harvey Weinstein, preferiu que ele o tratasse quando começou a sofrer ataques de pânico.
“Aconteceram coisas terríveis, e até que viessem à luz os documentos do MK-Ultra, nunca pude entender a transformação que ele sofreu”.
Lou era conhecido por ser um homem sociável que gostava de cantar e comandava um negócio. Mas deixou o hospital psiquiátrico como uma sombra — com sua vida e família destruídas.
Centenas de casos
Ele não foi o único. Centenas de pessoas reportaram a mesma situação.
“Eu tinha problemas com meus pais”, se recorda Lana Ponting, “e resolveram me internar no Allan. Eles não imaginavam o que acontecia ali.”
“Quando minha família voltou para me buscar, eu parecia um zumbi. Nem sabia quem eles eram”.
Foto: O Allan, a mansão gótica com vista para Montreal, local Cameron dirigia seu instituto.
A enfermeira Esther Schrier foi internada no Allan grávida, sofria de pânico de perder o bebê, depois da morte de um filho. Seu tratamento acabou somente quando estava a um mês de dar à luz.
Ela comentou anos depois, em entrevista, como estava perdida.
“Tinha um bebê novo e não sabia o que fazer com ele. Uma babá me ajudava, mas, para que você tenha uma ideia, isto é um pequeno exemplo do que ela me escreveu num caderno antes de tirar um dia de folga: ‘Quando escutar o bebê chorando, vá ao quarto. Pegue o bebê’… e explica passo a passo como alimentá-lo. Foi muito aterrorizador”.
O médico Dr Cameron
Foto: Reprodução – Na foto Cameron que foi presidente da Associação Americana de Psiquiatria (1952-1953 e en 1963), Associação Canadense de Psiquiatria (1958-1959), Sociedade de Psiquiatria Biológica (1965) e Associação Mundial de Psiquiatria (1961-1966).
Alguns anos depois, a CIA se aproximou de Cameron, logo após lançar o MK-Ultra, por meio da Sociedade para a Investigação da Ecologia Humana, uma de suas organizações de fachada, através da qual, canalizavam dinheiro.
Entre janeiro de 1957 e setembro de 1960, a agência destinou ao psiquiatra US$ 60 mil, o equivalente a US$ 600 mil nos dias de hoje.
Cameron era popular por defender um novo enfoque científico do cérebro, segundo o qual a mente funciona similarmente a um computador, que pode ser reprogramada apagando memórias e reconstruindo a psique por inteiro.
Para isso, tinha que levar os pacientes a um estado psicológico infantil, situação em que os médicos podiam aproveitar a vulnerabilidade cognitiva da pessoa.
Ao partir do zero, era possível reestruturar a mente e instalar ideias na memória de um indivíduo sem que esse se desse conta de que elas não eram originais.
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Dormitório
Pacientes que davam entrada no instituto por problemas menores, como transtornos de ansiedade ou depressão pós-parto, eram direcionados ao “dormitório”, onde eram induzidos ao coma por dias ou meses.
Na sequência, eram “desestruturados” por meio de uma terapia eletroconvulsiva com potência e frequência nunca vistas, para que fossem colocados em um “estado vegetativo”, a partir do qual alcançariam um “estado mental mais saudável”, segundo a teoria de Cameron.
“Meu pai recebeu 54 tratamentos de eletrochoque de alta voltagem seguidos por 54 convulsões (perda de consciência e contrações musculares violentas), disse em entrevista, Lana Sowchuk, cujo pai era “um homem são e atlético de 27 anos”, que foi ao hospital para cuidar da asma.
“Depois de 27 dias de eletrochoques, disseram que estavam desanimados porque ainda tinha vínculos com sua vida anterior, pois seguia pedindo para ver a esposa”, comenta Julie Tanny, cujo pai também foi incluído no programa.
“Decidiram lhe dar mais tratamentos de eletrochoque e colocá-lo para dormir por outros 30 dias”.
Sem seu conhecimento ou consentimento, os pacientes foram tratados à força com altas doses de drogas psicodélicas, como o LSD.
Condução Psíquica
Como parte desse formato de reprogramação, que Cameron chamou de “condução psíquica”, obrigavam-nos a escutar mensagens cíclicas com fones de ouvido ou alto-falantes. Ás vezes colocados dentro do travesseiro do paciente, por até 20 horas ao dia, estivessem dormindo ou acordados.
Algumas mensagens eram negativas (“minha mãe me odeia”), outras davam instruções (“deve se comportar melhor”). As mensagens eram repetidas até meio milhão de vezes por sessão.
O experimento de Cameron também teve uma privação sensorial extrema — o que era suficiente, de acordo com o psiquiatra Harvey Weinstein, para provocar psicoses em qualquer pessoa.
“Meu pai estava numa espécie de célula com as mãos cobertas para que não pudesse sentir nada; no escuro, para que não pudesse ver nada; e com um ruído constante, para que não pudesse escutar nada. Basicamente, isolado de toda sensação normal.”
Lou Weinstein ficou meses nesse estado.
Harvey tinha 12 anos quando Lou foi pela pela primeira vez ao Allan Memorial Institute. Ainda era um adolescente quando, em 1961, a casa da família precisou ser vendida para pagar contas. Nesse momento difícil, a família continuava acreditando que deveria seguir a sugestão dos médicos.
Mas o jovem que logo viraria psiquiatra acabou perdendo o pai.
“Esse homem dinâmico saiu como um vegetal. Tinha uma síndrome cerebral grave. Ficava no sofá, não conseguia se orientar, sua personalidade estava totalmente destruída, e às vezes não sabia onde estava.”
Outros pacientes perderam as memórias e detalhes de sua família, ou tiveram uma amnésia permanente.
Muitos retornaram para casa em um “estado infantil” e precisaram de treinamento para recuperar a continência e capacidade de coisas antes, simples como ir ao banheiro, por exemplo.
Sequelas eternas
Enganados quanto as intenções e métodos do tratamento, os pacientes levaram sequelas pelo resto de suas vidas.
O programa MK-Ultra perdeu força em 1964, mas só foi interrompido definitivamente no ano de 1973, quando algumas das provas de suas atividades foram apagadas.
“Tudo foi descoberto graças a um jornalista chamado John Marks, que escreveu o primeiro livro (em 1979) sobre o programa, chamado Em busca do candidato de Manchúria: a CIA e o controle mental“, falou o historiador Tom Oneill.
Foto: Reprodução / Marks era um jovem jornalista quando obrigou a CIA a fornecer as provas.
Quando Harvey leu uma resenha do livro, sua reação inicial foi de alívio. Realmente, finalmente existia uma explicação sobre o que havia acontecido com seu pai. Entretanto, esse alívio logo se transformou em raiva.
“Raiva contra o médico que havia promovido essa ignomínia ao Allan. Raiva contra a CIA por fazer experimentos com pessoas seu seu consentimento. Foi um sentimento de fúria profunda. E sobretudo depois das Leis de Nuremberg de 1946.”
Em síntese, uma das ironias do contexto é que Cameron havia sido um dos psiquiatras convidados a avaliar os nazistas acusados nos julgamentos de Nuremberg. Foi onde se declarou pela primeira vez o Código de Nuremberg para a ética da investigação com experimentos humanos.
Nos julgamentos Nuremberg, médicos nazistas foram acusados por “realizar experimentos médicos sem o consentimento dos sujeitos”.
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Triste desfecho
Após a revelação, “houve audiências no Congresso dos EUA no meio dos anos 70 e a CIA finalmente admitiu que esse programa existia, que provavelmente não era correto, mas fingiram inocência”, comentou Oneill.
No entanto, defendeu o historiador, “a CIA sabia que estava quebrando todas as leis morais, éticas e legais ao fazer esses experimentos”.
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A maior parte dos sobreviventes sofreu em silêncio, ou seja, levando o trauma para o túmulo. Porém, com a liberação dos documentos, outras vítimas dos experimentos ou seus familiares conseguiram reconstituir os fatos.
“Me diagnosticaram com esquizofrenia. Descobri isso lendo meu arquivo 20 anos depois”, disse em entrevista, Linda McDonald, que foi internada quando tinha 26 anos e sofria de depressão.
“Me deram todos esses tratamentos de choque eletroconvulsivo e megadoses de drogas e LSD e tudo isso. Não tenho memória de nada disso, nem do tempo no Allan, nem nada da minha vida anterior a isso. Tudo se foi.”
Finalmente, alguns sobreviventes que não tiveram pedidos de desculpas formais nem compensações, apresentaram uma demanda coletiva contra as instituições que consideram responsáveis.
“Todos estavam por trás disso. Sabiam o que estavam fazendo. E o faziam por razões militares e políticas”, desabafa Sowchuk.
“Sigo tomando medicamentos pelo que me ocorreu quando tinha 16 anos”, contou Ponting. “Quero que todos saibam o que ocorreu nesse horrível hospital”.
Mesmo que os historiadores e sobreviventes tragam à tona, o que se sabe do caso ao mundo, o alcance e o impacto do experimento ainda é desconhecido.
Contudo, dada a natureza altamente complexa do programa, dificilmente todas as informações virão à luz nos próximos anos.