galinhas são dinossauros

É mesmo verdade que galinha é dinossauro?

Muito se especula se galinha é dinossauro ou se as galinhas e os dinossauros são primos, já que o parentesco é fruto de milhões de anos de mutações genéticas e seleção natural das espécies, porém, a verdade vai muito além.

Embora as aves apresentem um parentesco, eles não são exatamente primos. Segundo o biólogo Rafael Delcourt, doutor em zoologia e especialista em dinossauros, elas são, na verdade, os próprios dinossauros. Então sim, galinha é um dinossauro!

Pode isso? Pode sim!

“Galinhas e aves, no geral, são uma linhagem de dinossauro que conseguiu passar pelo processo de extinção e sobreviveu até hoje. Foi o único grupo de dinossauros que conseguiu passar”, explica Rafael.

Para ficar mais claro de entender a afirmação, é necessário pontuar que o termo “dinossauro” se refere a um grande grupo de animais com características distintas entre si. Foram os terópodes (Theropoda), uma subordem de dinossauros bípedes, que ao longo dos anos desenvolveram uma linhagem de forma diferenciada e originaram as aves atuais.

A galinha é dinossauro e ponto!

Galinha é dinossauro / Feito Curioso

Foto: Reprodução

Outra comprovação de que a galinha é dinossauro está no parentesco com o Tiranossauro rex, provinda de uma descoberta feita na China, em 2012, de fósseis de espécies menores da família dos tiranossauros que sugeriam que o animal pré-histórico também tinha penas.

Alguns anos atrás, perto da fronteira entre a Bélgica e a Holanda, um caçador amador de fósseis chamado Maarten van Dinther retirou um bloco de rocha comum cujo tamanho equipara-se ao de um baralho de cartas. Embora ele desconhecesse isso na época, na pequena placa havia  um crânio minúsculo e perfeito do parente direto mais antigo já descoberto das aves modernas, uma ave que foi contemporânea dos dinossauros.

O animal, nomeado carinhosamente de ‘galinha maravilha’ pela equipe internacional de cientistas que avaliou o fóssil, viveu há 66,7 milhões de anos, apenas 700 mil anos antes do impacto do asteroide que destruiu todos os dinossauros não aviários. Batizada de Asteriornis em um artigo publicado na revista científica Nature, a espécie — conhecida a partir de fósseis de seus membros posteriores, além de seu crânio — carrega características semelhantes aos patos e às galinhas, indicando relação com o ancestral compartilhado de ambos os grupos.

“Esta é uma descoberta extraordinária e emocionante, que revela novas ideias em um capítulo muito pouco conhecido da evolução aviária”, afirmou Gerald Mayr, ornitólogo e especialista em evolução de aves do Instituto de Pesquisa Senckenberg em Frankfurt, Alemanha, que não fes parte do novo estudo.

Asteriornis era uma ave costeira de pernas alongadas que possivelmente tinha habilidade de voo e passava seu tempo vasculhando as praias da Europa do fim do Cretáceo. Essas praias possuíam fileiras de ilhas em mares quentes e rasos, e um clima similar ao das Bahamas de hoje.

Contemporânea do T. rex

Galinha é dinossauro / cranio / Feito Curioso

Foto: Reprodução

“Esta é a primeira vez que vimos o crânio bem preservado de uma ave moderna da era dos dinossauros”, comentou Daniel Field, principal autor do estudo e paleontólogo da Universidade de Cambridge. “Asteriornis nos fornece uma visão mais clara de como eram as aves modernas na… época em que o T. rex e os Triceratops ainda estavam vivos. ”

O fóssil de 66,7 milhões de anos foi descoberto no Hemisfério Norte, diferente de todos os outros restos de aves modernas do período Cretáceo que são oriundas do Hemisfério Sul. Esses fósseis incluem os ossos de uma espécie próxima  ao pato chamada Vegavis e foram encontrados em rochas de 66,5 milhões de anos na Península Antártica e descritas em 2005.

Ao passo que diversas aves conviveram com os dinossauros, a maioria era membro de grupos arcaicos, como os Enantiornithes dentados, que entraram em extinção com a maioria dos animais terrestres maiores. Todas as aves modernas tiveram origem em um único grupo chamado Neornithes, que apareceu no fim do período Cretáceo.

“O espécime é lindo, o primeiro da Neornithes realmente interessante do Cretáceo”, afirma Jingmai O’Connor, especialista em aves fossilizadas do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados em Pequim, na China, que não teve participação no novo estudo.

Até então, a maioria dos fósseis de aves do Cretáceo relacionadas a espécies vivas era “extremamente fragmentada e duvidosa”, diz ela, mas a nova descoberta sugere a possibilidade de encontrar novos parentes modernos e bem preservados que viveram antes do impacto e do evento de extinção.

A ‘galinha maravilha’ e sua anatomia de dinossauro

Galinha e dinossauro / Feito Curioso

Foto: Reprodução

Asteriornis provavelmente era muito parecida com o último ancestral comum dos Anseriformes, uma ordem de aves que inclui patos e gansos, e dos Galliformes, como as galinhas e os perus. “Já sabíamos que esses grupos haviam se dividido durante o Cretáceo, então sabíamos que os ancestrais desses grupos estavam por perto”, diz O’Connor. “Mas agora os paleontólogos finalmente encontraram um.”

Os crânios das galinhas e dos patos “são muito diferentes nos dias atuais, de modo que o crânio de Asteriornis fornece o primeiro vislumbre que já tivemos de como provavelmente era o crânio do ancestral comum mais recente desses grupos”, detalha Field.

Outros grupos de aves vivas que podem ter surgido durante o  período Cretáceo incluem as aves Paleognathae, como os avestruzes, emus, emas e casuares. Paleognathae, Anseriformes e Galliformes são algumas das ramificações mais antigas da árvore genealógica das aves modernas, e vários outros grupos de aves podem ter aparecido somente após o impacto do asteroide.

Uma descoberta casual

Conheça a galinha ancestral que conviveu com os dinossauros |Feito Curioso/ Galinha é dinossauro

Foto: Reprodução/ galinha é dinossauro

Logo após encontrar os fósseis da ‘galinha maravilha’ em 2000, van Dinther doou os espécimes para o Museu de História Natural de Maastricht, na Holanda. O curador do museu e coautor do novo estudo, John Jagt, mandou para Field em 2018 os quatro pequenos blocos de rocha com ossos de membros expostos.

Pela aparência dos fósseis, Field tinha pouca expectativa de encontrar algo mais interessante do que ossos quebrados dos membros. Mas as aves do fim do Cretáceo são raras, então ele preferiu analisar os fósseis por tomografia computadorizada de alta resolução para melhor visualizar o que estava escondido dentro da rocha.

Ele juntamente a um de seus alunos de doutorado, Juan Benito, ficaram surpresos ao descobrir “um crânio 3D maravilhosamente preservado, quase completo, de uma ave moderna”, diz Field. “É o primeiro crânio de uma ave moderna de toda a era Mesozoica e um dos crânios de ave fossilizada mais bem preservados de qualquer época.”

A descoberta foi um dos momentos mais fantásticos da carreira científica de Field até hoje, diz ele. Os autores do estudo nomearam a nova espécie de Asteria, a deusa grega Titã das estrelas cadentes, que se transformou em uma codorna — um nome apropriado para uma ave que viveu pouco antes do impacto que marcou o fim da era dos dinossauros, comenta Field.

Aves são dinossauros?

Fósseis encontrados na China revelam mescla entre dinossauros e aves (/ Galinha é dinossauro? Feito Curioso

Foto: Reprodução/ galinha é dinossauro

Várias descobertas nos últimos anos trouxeram a tona as origens pré-históricas de grupos de aves vivas e como esses animais foram capazes de sobreviver a um dos maiores eventos de extinção da história da Terra. Aves fossilizadas da Nova Zelândia e da Antártica que viveram logo após o impacto foram caracterizadas como espécies nos últimos anos, segundo Mayr.

Como vários dos fósseis mais antigos de aves modernas são originárias do Hemisfério Sul, incluindo a recordista anterior de ave moderna mais antiga, a Vegavis da Antártica, alguns paleontologistas haviam indicado o supercontinente sul de Gondwana durante a época dos dinossauros como local de origem das aves modernas. Mas essa nova descoberta de uma ave que é ainda mais velha que a Vegavis no Hemisfério Norte joga essa teoria por terra.

“Nesse ponto, acho que a única coisa que podemos dizer com certeza é que as origens geográficas das aves modernas são realmente misteriosas”, afirma Field. “Somente os fósseis encontrados no futuro serão capazes de nos revelar a origem das aves modernas na Terra.”

 

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